sexta-feira, setembro 01, 2006

Para os macaquinhos meditarem

O seguinte artigo é do Público de dia 1 de Setembro. É interessante vermos não só o que se vai passar, mas como a imprensa tratará o debate.
Entre equipistas tudo isto já foi discutido. Pelo menos fica esclarecido que, ao contrário do que alguns gostam de pensar, este não é um debate encerrado. Venham daí as opiniões.


Especulações fervilham, irá o Papa rejeitar a teoria da evolução e aceitar o criacionismo?

Clara Barata

Bento XVI vai discutir a teoria da evolução e a religião com antigos alunos, hoje e amanhã, num debate que os cientistas seguem com toda a atenção.

O Papa Bento XVI junta hoje e amanhã alguns dos seus antigos estudantes de Teologia, para debater a evolução e a religião. Esta iniciativa está a ser encarada como o apoio por parte do Vaticano da posição de alguns grupos cristãos conservadores, sobretudo norte-americanos: a recusa da teoria da evolução através da selecção natural, formulada pelo naturalista britânico Charles Darwin no século XIX.
Já desde os anos 70 que Joseph Ratzinger convoca estas reuniões com os seus alunos, visto que antes de singrar na hierarquia do Vaticano foi professor de Teologia em quatro universidades alemãs, recorda a agência Reuters. Mas a polémica em torno da evolução nos Estados Unidos está a gerar um inusitado interesse pelo encontro deste ano, que se realiza na residência de Verão do Papa, em Castel Gandolfo.
Os blogues e sítios sobre ciência e religião estão cheios de discussões sobre se esta reunião significa que o Vaticano vai assumir uma postura mais crítica em relação à teoria da evolução, talvez até abraçando o criacionismo ou a teoria da concepção inteligente, nas suas roupagens mais modernas.
Sobretudo porque, na semana passada, o padre jesuíta e astrónomo George Coyne, que dirigia o Observatório do Vaticano há 28 anos, foi afastado do cargo e substituído por um outro jesuíta, José Funes, de 43 anos. Coyne tinha-se distinguido na crítica dos fundamentalistas que se recusam a aceitar como válida a teoria da evolução e não fez declarações depois de afastado.
O Papa João Paulo II não foi muito claro quanto à aceitação, ou não, da teoria que explica a história da vida na Terra através da evolução, que tem por motor os processos da selecção dos genes de indivíduos mais aptos e adaptados ao meio, que têm maior sucesso reprodutivo e assim passam as suas características genéticas à geração seguinte. Mas o anterior Papa procurou fazer as pazes com a ciência, neste campo e noutros - por exemplo, absolvendo Galileo Galilei no processo que lhe moveu a Inquisição, pela heresia de defender que a Terra gira em torno do Sol.
Foi em 1859 que Darwin publicou a teoria em que levou uma vida a reflectir, no livro Origem das Espécies. Seria de esperar que, quase 150 anos depois, a teoria da evolução fosse já um tema pacificado. Para os cientistas, sim. Para alguns líderes religiosos e para parte significativa do mundo, não.
Nos Estados Unidos, sucedem-se os casos de estados que tentam eliminar o ensino da teoria da evolução dos currículos escolares, ou pelo menos de a apresentar como uma teoria entre outras, não provada, e que é motivo de polémica entre os cientistas. O Kansas é um dos estados em que o tema é recorrente.
Com a entrada de George W. Bush (um cristão renascido) na presidência, estes movimentos que defendem uma interpretação literal da Bíblia, até da criação da Terra e da vida em apenas seis dias, ganharam novo fôlego, dizem os observadores do fenómeno cultural do criacionismo ou concepção inteligente. Nos EUA, parte considerável da população cristã, tanto católica como protestante, pode ser definida como fundamentalista, julgando essencial acreditar na literalidade da Bíblia - enquanto na Europa a maior parte dos cidadãos aceita que se trata de um texto alegórico ou metafórico, diz um artigo publicado este mês na revista Science, que compara a atitude das populações de 34 países face à evolução (ver gráfico). "Um em cada três adultos americanos rejeita firmemente o conceito de evolução, uma proporção significativamente maior do que na Europa ocidental", lê-se no artigo, assinado em primeiro lugar por Jon Miller, da Universidade do Michigan.
Toda a especulação em torno da jornada de reflexão promovida por Bento XVI pode não passar disso mesmo. Há que esperar para ver se o Vaticano se aproxima desta visão norte-americana.

10 comentários:

João Silveira disse...

Essa senhora escreve tanto, mas só não explica pq é q a Igreja não se identifica completamente com a teoria evolucionista...deve ser pq o Papa é fundamentalista, que é a resposta mais comum.

Anónimo disse...

Fosse assim tão simples e já estávamos todos contentes Maria Ana.

Existem assuntos muito sérios no meio de tudo isto. A questão do Pecado Original (como é que apareceu, então? a partir de que momento é que o Macaco ganhou alma? e tudo isso) é apenas um deles.
A Igreja rejeita, oficialmente, a tese da evolução proposta por Darwin. Ninguém nega que as pessoas vão evoluindo, até certas doenças são prova disso. Mas isso é muito diferente de dizer que todos evoluímos aleatoriamente, de criaturas uni-celulares até macacos e depois até homens.

Para além disto, convém lembrar que a teoria da evolução é apenas isso, uma teoria. Não está provada e por isso, por uma questão de seriedade, era escusado ensiná-la como se fosse um facto consumado. Queixam-se tanto dos dogmas dos católicos, mas a ciência também parece ter os seus.

A mim também não abala a fé pensar que Deus nos criou de uma maneira, sabendo que a natureza e tudo o resto que ele já tinha criado se encarregaria de continuar essa criação. Mas uma coisa são as nossas boas intenções, outra é a realidade e a doutrina da igreja que não se dobra à teoria da moda só porque toda a gente no mundo a a aceita.

De resto, concordo com o João, que falta à jornalista explicar a posição da igreja. Neste caso é trabalho jornalístico mal feito. Tivemos outro caso, gritante, com as notícias que saíram recentemente sobre células estaminais embrionárias.

Anónimo disse...

A propósito de tudo isto, vale a pena ler:

http://www.getreligion.org/?p=1863

Anónimo disse...

Existem pessoas que acreditam, ipsis verbis, no relato bíblico sobre a criação da terra. Felizmente encontram-se quase todas do outro lado do oceano. É pena que muitas vezes apresentem este problema como uma debate entre fundamentalistas tapados que acreditam na história da criação sem pensar, e pessoas civilizadas que acreditam na ciência.
Tens razão, claro que Deus e a ciência complementam-se, o que não implica que a Igreja tenha que concordar com todas as teorias científicas.
A ideia de que somos produtos de uma selecção natural, aleatória e perfeitamente casual (e é de facto esta a teoria de Darwin) é contrária aos ensinamentos da Igreja, e por isso é rejeitada por ela. O que não quer dizer que a Igreja não defenda que, de facto, a história bíblica da criação seja uma parábola, uma catequese riquíssima e não um relato factual.

Por acaso estou curioso, que outras teorias é que aprendeste na escola sobre a origem do homem? É que eu só aprendi a da evolução darwiniana, dúvido que ensinem outras.

A história do pecado original, não penses que seja a minha grande preocupação, isso já são debates teológicos que me ultrapassam, mas interessa e muito, a algumas pessoas. Logo é um assunto a ter em conta também.
Beijinhos!

João Magriço disse...

Maria Ana, eu acredito que a mulher surigiu a partir de uma costela do homem. Deus era para criar um ser muito melhor que a mulher, mas isso custava-nos os olhos da cara...

Brincadeira à parte, concordo com a tua posição de Deus e a Ciência se complementarem, mas a Igreja tem de ter muito cuidado com o que diz. Um exemplo práctico disso é a hsitória de Galileu apresentada num post anterior, em que JPII o perdoou pela perseguição feita pela Inquisição num assunto que hoje ninguém dúvida, mas que naquela altura era absurdo: a terra girar em volta do sol.
Quem sabe daqui a uns anos surja outra teoria melhor do que a de Darwin...

Já agora Filipe, havia uma 3ª teoria para além da evolucionista e da criacionista, mas era tão absurda que estudámos só por motivos académicos. Tão académicos que também estudámos porque é que estava errada. Um dia explico-te, mas não me lembro do nome.

Um abraço a todos

Anónimo disse...

Eu estudei em colégios ingleses até ao décimo, por isso se calhar eu é que estou enganado, mas vocês aprendiam a teoria criacionista nas escolas portuguesas? E o Francisco Louçã sabe?

Francisco X. S. A. d'Aguiar disse...

Filipe, o Magriço estudou no Planalto, obviamente que lhe ensinaram a teoria criacionista.

Aqui o je, que estudou na bela da Escola C+S de Azeitão, aprendeu apenas a teoria evolucionista de Darwin e, tendo sido a única ensinada, depreendia-se como aceite universalmente como provavelmente correcta.

João Magriço disse...

Malta, o Magriço estudou no Planalto e aprendeu a Teoria Criacionista, mas teve que andar a discutir com o prof pq ele não lhe dava crédito nenhum (à teoria, entenda-se). Não é uma questão de escola, é mesmo de ciência...

Anónimo disse...

Ah pois... esqueci-me desse pequeno pormonor...
É caso para se dizer oops... (ou opus...).
Agora... vou meter ainda mais... frases com... sei lá... reticências... Pois... é isso.(..)

João Silveira disse...

E eu, q estudei toda uma vida nos salesianos do estoril, aprendi o criacionismo, mas muito ao de leve, o Darwinismo e o Lamarckismo (já não me lembro se se escrevia assim). Esta teoria dizia q as alterações no corpo de um animal, ao longo da vida, seriam transmitidas geneticamente às gerações posteriores. Ou seja, o pescoço das girafas foi crescendo, pq precisavam de se esticar para chegar às folhas mais altas, então as girafas filhas, já teriam os pescoços maiores, do que os seus progenitores quando nasceram. Demonstrou-se q esta teoria estava errada, pq cortaram caudas a ratos, e os seus filhos nasceram com caudas, enfim...Por isso estudámos até à exaustão o darwinismo.

A teoria evolucionista faz sentido, mas como cristão não consigo perceber em que altura é q o Homem começou a ter alma. E isto pode ser indiferente para a minha vida, mas não é certamente indiferente para explicar o passado da humanidade, e ao fim e ao cabo (bela expressão), é esse o objectivo destas teorias.