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Dos Peregrinos de Santiago, do Pinguim, da Foca, do Lobo, do Urso Polar, do Alce e do Leão Marinho!
O blog de todos os Peregrinos que, durante 5 dias, criaram uma relação entre todos e com Jesus, Maria e Santiago simplesmente fantástica.
D. Joaquim Mendes fora nomeado Bispo Auxiliar do Patriarcado de Lisboa a 31 de Janeiro, por Bento XVI. O seu lema episcopal é o mesmo que escolheu a quando da ordenação sacerdotal: “Eu estou no meio de vós, como aquele que serve” (Lc 22,27). Ao prelado, de 59 anos, foi atribuído o título de Bispo titular de Caliabria, junto de Ciudad Rodrigo.
D. Joaquim Augusto da Silva Mendes nasceu a 14 de Março de 1948, sendo natural de Castelões de Cepeda (Paredes), diocese do Porto. Ingressou no Noviciado da Congregação Salesiana, em Manique, a 4 de Outubro de 1974 e emitiu os votos perpétuos na Sociedade Salesiana de S. João de Bosco 15 de Abril de 1981. Recebeu a ordenação sacerdotal a 24 de Julho de 1983. É licenciado em Teologia pela Universidade Católica Portuguesa e em Teologia Espiritual pela Universidade Pontifícia Salesiana, de Roma.
Exerceu, entre outros cargos, os de Assistente Diocesano do Renovamento Carismático Católico na diocese do Porto (1991-1999); Presidente da Conferência Regional dos Institutos Religiosos da diocese do Porto (1993-1996); Membro do Conselho presbiteral da diocese do Porto, em representação dos Institutos Religiosos (1994-2000); Membro da Direcção da Conferência Nacional dos Institutos Religiosos (2002-2005). Na Família Salesiana, além de outros cargos, foi Superior Maior da Província Portuguesa (1999-2005) e Director da Escola Salesiana de Manique, lugar que desempenhou com a maior aceitação e prestígio.
Na Bula pontifícia de nomeação, Bento XVI frisa que “atendendo às dimensões da Igreja do Patriarcado de Lisboa e ao seu grande número de católicos, é conveniente que haja vários Bispos Auxiliares a animá-la, a fim de não ser negligenciada a obra de salvação dos cristãos”.
Para os que realmente desejam aprender, aqui está uma bocadinho da matéria que eu (e provavelmente também o Filipe) aprendi na cadeira de Propedêutica Bíblica. Vale a pena ler tudo e não só passar os olhos!
Os salmos que contêm imprecações são os números 58; 109; 82; 83; 35.
Aqui fica uma pequena exposição do Sr Prof Pe Armindo dos Santos Vaz
* Frequentemente o género literário de imprecação faz com que apareçam as formas mais gráficas, refinadas e duras, as menos calculadas e, portanto, chocantes para a mentalidade e sensibilidade cristã. Muitas vezes não são senão fruto da imaginação desenfreada, com vocabulário colorido e sonoro, feito de hipérboles sem limites, com formas estereotipadas da linguagem oriental, clichés literários convencionais, tendentes a impressionar ou a exprimir com veemência e autenticidade um pedaço de vida diante de Deus. Assim, as imprecações não são senão o veículo literário da vibração fogosa da alma semita, fortemente imaginativa e realista. Muitas vezes são imprecações literárias e poéticas (cf. Sl 109,17ss). Entender esta linguagem imagética como linguagem conceptual falseia o seu sentido real.
* As imprecações contra os ímpios eram fundamentalmente éticas, enquanto ditadas por um profundo sentido de justiça: visavam a punição do ímpio pecador; nasciam do zelo ardente do Salmista pela honra de Deus e pelo bem do povo. Por isso, até eram formuladas sobretudo na oração (nos Salmos imprecatórios). Frequentemente têm como contexto a “lei de talião” (Ex 21,13s), que exprimia, embora de forma rude, o princípio de que toda a culpa deve ser punida. Quando o justo invocava o castigo sobre os seus adversários tinha sentimentos rectos. Nas imprecações o piedoso de algum modo identificava a própria causa com a de Deus, ao menos com a causa da justiça e da rectidão; nas afrontas que sofria dos malvados via a ofensa da própria honra divina. Por isso, quem imprecava exprimia o desejo legítimo de que não houvesse mais inimigos de Deus. A veemência verbal mais incendiada era entendida como sinal de maior amor a Deus [1].
* Quem imprecava não queria exercer a justiça/vingança por sua própria conta; manifestava o desejo veemente de que a justiça fosse exercida; por isso, pedia-a ao próprio Deus, justo, que, segundo a fé do tempo do salmista, dá a cada um segundo as suas próprias obras durante a vida terrena, pois ainda não tinha a ideia da retribuição escatológica na vida eterna. Para ele, a justiça de Deus só se podia efectivar no âmbito da vida temporal. Assim, sob este aspecto, as imprecações eram a expressão de almas dolorosamente provadas e limitadas aos horizontes deste mundo. A transferência dos desejos de vingança para Deus permitia ao orante uma espécie de catarse, descarregando-se deles e impedindo a explosão da violência física.
* No AT o mal e o bem eram captados ‘concretamente’ em quem os realizava. Não se distinguia adequadamente entre pecado e pecador, vistos como uma única coisa. Dado que, segundo pensavam, Deus odiava o “pecador”, era normal que o justo odiasse aquilo que Deus odiava (cf. Sl 139,21; 15,4) e amasse o que Deus amava.
* O ódio contra os malvados compreende-se atendendo a que eles não eram simples inimigos pessoais, mas gente que punha em perigo a fidelidade à Lei do Senhor, tentadores, incarnação das potências do mal, gente que com as suas maquinações tentava afastar o justo da prática religiosa [2].
Estas observações não devem banalizar os textos bíblicos que apelam à vingança divina. Tentando compreender esse discurso, tem de ser dito que ele hoje não é legítimo em nenhuma situação. A própria Bíblia mostra que não se pode encerrar Deus numa concepção simétrica em que ele se opõe aos seus opositores, como um Deus justiceiro.
Uma vez compreendido por que estão na Bíblia do AT, problema mais agudo é o de decidir se conviria rezar os Salmos imprecatórios hoje, na oração oficial da Igreja do NT. A Introdução à Liturgia das Horas de 1971 excluiu da liturgia eclesial três salmos inteiros (58, 83 e 109) e todos os versículos de carácter imprecatório. A solução não seria banir essas orações da oração da Igreja, mas em compreendê-los e em perceber por que estão na Bíblia. Eles podem ser a linguagem ou expressão dos lamentos e da revolta interior do cristão, que ainda hoje e mais do que no tempo dos salmistas hebreus depara constantemente com o mal moral. Esses salmos podem servir para as vítimas da violência elevarem o seu grito de pedido de justiça a Deus, num protesto orante e não violento face à violência e ao medo. Nos salmos, entregar a ‘desforra’ a Deus implica renúncia à vingança por parte do ofendido (ver Sl 94). Jesus também os rezou, assumindo nessa sua oração a inconformidade de todo o cristão relativamente ao mal moral.
[1] Cf. Ne 3,36-37; 5,13. E. ZENGER, Ein Gott der Rache? (Freiburg 19982) trata dos chamados salmos da ira de Deus. Ver tradução inglesa, da 1ª ed.: A God of Vengeance? (Louisville 1996).
[2] Sobre as “imprecações”, cf. L. JACQUET, Les Psaumes et le coeur de l’homme. Étude textuelle, littéraire et doctrinale I (Duculot 1975) 130-144; M. de TUYA - J. SALGUERO, Introducción a la Biblia, I, pp. 286-314.