Eu previa que este post pudesse cair mal quando o escrevi, foi por isso que coloquei o título "Desabafo". Esperava exprimir precisamente o meu estado de alma. Isto não é uma desculpa para qualquer falha da minha parte, apenas contextualização.
Em relação às críticas de ZMD (bem-vindo ao blogue, entretanto), aceito algumas delas. Tem toda a razão no que diz respeito ao tratamento que se dá a um bispo, quer se concorde com ou não com as suas posições.
Alterei, por isso, o último parágrafo do post. Não o fiz contrariado ou por cinismo, mas porque reconheci aí uma falta de respeito da minha parte que nada tem a ver com o resto do conteúdo.
Respondendo a algumas das suas outras objecções, caro amigo, confesso que não concordo quando diz: "Acima de tudo está a unidade da Igreja".
Acredite que a unidade da igreja não o preocupa mais a si do que a mim, mas acima dessa unidade tem de estar, sempre, a verdade. Não presumo a arrogância de a definir por mim, contra um bispo. Sei que tenho do meu lado (aliás, coloco-me eu ao lado de) a doutrina da Igreja no que diz respeito a estas questões; os ensinamentos de papas e de outros bispos, incluindo o meu, que é o Patriarca de Lisboa e não o Sr. D. Januário.
A unidade da Igreja nunca deve ser conseguida à custa da verdade. É por isso que o Arcebispo Marcel Lefebvre e alguns dos seus seguidores foram colocados de fora da nossa comunhão, e é esse o princípio central que norteia o diálogo ecuménico.
Todavia, dado o carácter público do evento de que eu falo, o lançamento de um livro, em local público e editado por uma editora que pertence ao maior grupo editorial do país, custa-me muito aceitar que tenha sido o meu post a contribuir para a desunião da Igreja, e não o evento ao qual reagi.
Qual é o bem? Mais uma vez, discordo da sua conclusão. Parece-me que, não obstante as suas outras críticas, há bem. Como disse, o acto do Sr. Bispo é público (como têm sido vários outros aos quais nem sequer me estou a referir), por isso não me parece grave que a censura que lhe faço seja pública também.
Onde lhe dou razão é na questão de limitar o meu “desabafo” a este blogue, pouco lido. Porque não quero fazer de “queixinhas”, reclamando aos superiores do Senhor Bispo em questão, pesquisei e encontrei o e-mail do D. Januário: januario@csarfa.mdn.gov.pt (atenção que este e-mail está num site público, pelo que não será indiscrição divulgá-lo). Vou escrever um e-mail a alertar o Sr. D. Januário para o meu post e para o meu desabafo, na esperança de que ele o leia e possa assim reconsiderar algumas das suas posições ou, caso verifique que sou eu quem está no erro, que me corrija.
Mas não tiro o post, nem penso que o deva fazer. Se não o tivesse escrito esta discussão não teria surgido. As pessoas que costumam cá vir não ficariam a saber deste acto público que, na minha opinião, constitui um escândalo e não se poderiam precaver contra ele.
Quando eu vejo que um Bispo promove um documento que diz respeito a um texto tão importante como o Humanae Vitae (e não o evangelium vitae, como erradamente escrevi no post original), parto do princípio que os conteúdos desse livro são sãos e de confiança. Muitos católicos poderão comprar e ler o livro, aceitando os erros que ele contém, precisamente por causa desse facto.
Este blog pode ser pouco lido, mas é lido por alguns. Se o meu post contribuiu para pelo menos uma dessas pessoas não ser levada no engano desse livro e do apoio a ele dado pelo Sr. D. Januário, será aí mesmo que encontrará o bem que lhe ilude.
ZMD, gostaria de agradecer os seus comentários. Calculo que continuará a discordar de mim, mas sem eles a questão não teria sido mais aprofundada e todos ficaríamos a perder.
Procurei escrever esta resposta/clarificação num espírito de humildade e não conflituoso, algo que por natureza não me é muito fácil, e espero ter conseguido. Peço desculpa se não o parecer.
A si os meus cumprimentos, aos restantes Peregrinos de Santiago, um grande abraço.
terça-feira, novembro 04, 2008
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10 comentários:
Não sabia nada disto. Inacreditável!...
Agradeço a resposta. Continuo a discordar, mas não é a minha intenção "embirrar".
Embora n seja visita habitual sou amigo de um ou dois dos bloggers e conheço alguns outros de vista.
Comentei o último post porque sei que a intenção n é criar desunião, mas alertar.
Contudo, continuo a achar que há meios e locais próprios para fazer este alertas. É óbvio que um bispo pode errar, mas se o faz cabe a quem tem uma autoridade maior do que ele corrigir. Nós podemos (e devemos) alertar quando nos parece que um pastor da igreja se desvia da doutrina. Parece é já prentensão (embora perceba que não é por pretensão que escreveu o último post) dizer públicamente que o bispo está errado.
Abraço, Zé Maria Duque
Filipe, grande post! Tens toda a razao!
Infelizmente a Igreja Portuguesa anda ha algum tempo sem "ordem na casa" e veem-se coisas inimagináveis.
É verdade podemos e até devemos (e se calhar pecamos por omissao por nao faze-lo) denunciar estes actos perante quem de direito. E se a Conferencia Episcopal e o Nuncio Apostolico nada fazem ha sempre Roma, Graças a Deus.
Mas a denuncia publica nao é ofensa nem vergonha. E quando alguem provoca tamanho mal deve ser chamado à atençao mas deve tambem fazer saber-se que o que fez foi mal, para nao levar ninguem ao engano.
Patilho inteiramente do teu desabafo e desafio-te a escrever a Roma.
Grande abaço!
Francisco,
com que autoridade e sabedoria os chama há razão?
É que os Bispos, o Núncio, o Papa são escolhidos pelo Espírito Santo. Ao Francisco quem o nomeou guardião da fé?
Se não concoda escreve a quem de direito e depois deixe que aqueles que o Senhor escolheu para guiar o Seu povo decidam se é necessária ou n uma correcção pública e, caso seja, em que moldes é feita.
Eu não vou querer entrar aqui em polémicas, mas não sei se já ouviu falar no Sacramento da Confirmação, em que pela acção do Espírito Santo nos tornamos também discípulos de Cristo e como tal guardiões da Fé.
Confirmação e Ordem, ambos são Sacramentos ministrados por obra e Graça do Espírito Santo por intermédio dos bispos.
Obviamente que não comparo as capacidades de um crismado com as de um bispo, sucessor dos Apóstolos. Mas também não menosprezo os seus dons e obrigações. E sim, é também obrigação dos crismados estarem atentos e agir. E não estamos a falar de questões ambíguas em que o melhor é esperar pela definição da hierarquia superior, estamos a falar de um caso concreto em que é evidente o erro praticado e o mal causado.
E como católicos, devemos obviamente ficar preocupados quando o Papa faz um reparo à Igreja Portuguesa e o nosso Patriarca diz que o Papa deve ter-se enganado e não queria dirigir-se com certeza à nossa Igraja. Como também devemos ficar preocupados quando a Sé de Portalegre e Castelo Branco fica meses sem bispo porque os nossos bispos simplesmente se recusam a aceitar a nomeação para o lugar. E mais preocupados devemos ficar quando estas coisas se passam e não se vê qualquer acção contraditória. Obviamente devemos ficar preocupados.
E não vejo nada disto como ataque à Igreja, bem pelo contrário.
Há uma diferença entre preocupados e chamar a si o direito de emendar publicamente os bispos.
Eu até acredito que o Francisco governasse melhor a Igreja Portuguesa que os nossos bispos, pena o Espirito Santo n o ter escolhido a sí.
Se está preocupado escreva ao Núncio, escreve ao Cardeal Patriarca, ao Arcebispo de Braga, ao Cardeal Bertone ou até ao Papa.
Agora emendar publicamente os bispos n é o seu dever. Pode dizer aos seus amigos "parce-me que aquele bispo está errado". Dizer publicamente e taxativamente que o bispo está errado é uma arrogância que traz maior mal que o eventual erro do bispo.
Eu agora também perguntava quem é que o nomeou defensor da Santa Madre Igreja, mas não vale a pena.
Eu falei em dever e responde-me falando em direito, pelo que claramente não me percebeu e não vai perceber, pelo que parece-me inútil continuarmos esta "conversa".
E já agora, antes de chamar arrogante aos outros, pense bem se ao fazê-lo não está a ser exactamente isso - arrogante.
E o que dizer sobre a impertinência (ou má criação, se preferir)? É que certas "familiaridades de linguagem" permitem-se aos amigos, nomeadamente àqueles com quem partilho este blog, mas não a ilustres desconhecidos que sempre foram bem vindos a aqui participar.
Este tipo de reacções fazem-me lembrar episódios como aqules que estão no post a seguir a este - há sempre uns devotos tão zelosos, tão zelosos das regras e costumes que no seu excesso de zelo acabam por esquecer o essencial da sua devoção e terminam em cenas de violência como aquela, ou de má criação como esta. E assim, lá se vai toda uma possível razão.
Ai a caridade...
"Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,
se não tiver caridade,
sou como bronze que ressoa ou como címbalo que retine.
Ainda que eu tenha o dom da profecia
e conheça todos os mistérios e toda a ciência,
ainda que eu possua a plenitude da fé,
a ponto de transportar montanhas,
se não tiver caridade, nada sou.
Ainda que distribua todos os meus bens aos famintos
e entregue o meu corpo para ser queimado,
se não tiver caridade, de nada me aproveita.
A caridade é paciente, a caridade é benigna;
não é invejosa, não é altiva nem orgulhosa;
não é inconveniente, não procura o próprio interesse;
não se irrita, não guarda ressentimento;
não se alegra com a injustiça, mas alegra-se com a verdade;
tudo desculpa, tudo crê,
tudo espera, tudo suporta.
A caridade não acaba nunca."
1 Cor 13, 1-8a
Francisco, relendo o meu comentário n vi nenhum má criação. O máximo de intimidade foi tratar o Francisco pelo nome, mas visto que é assim que assina no blogspot n posso fazer melhor que isso.
Não lhe falei num tom que o Francisco n tenha usado anteriormente. Tambem não lhe chamei arrogante, disse só que criticar públicamente os bispos é uma arrogância (mas há que distinguir o "pecado" do "pecador").
Espanta-me que fale da caridade após no comentário anterior, num local público como a internet, promove um ataque ao Senhor Patriarca e aos bispos portuguese em geral. Eu limitei-me a dizer que mais importante do que ter razão é a unidade da Igreja.
Há locais e meio próprios para expressar o nosso desagrado pela conduta de um bispo. Um blog público n é um deles.
Meu caro ZMD,
não sei se chegarás a ler este post devido à data tardia.
Antes mais, obrigado por teres discordado com o Filipe, tal como ele referiu, foi a melhor maneira de aprofundar o assunto.
Defendes que o Bispo foi escolhido pelo Espírito Santo e por isso não temos o direito de o criticar. Neste aspecto não concordo contigo. O facto de ter sido escolhido pelo Espirito Santo, não lhe dá poderes para ser infalível. Esse é só o Papa e só às vezes.
Em relação à correcção que o Filipe fez ao comunicar-lhe directamente o seu desabafo, também acho que o fez bem. Se somos todos filhos de Deus e irmãos em Cristo devemos podermo-nos corrigir uns aos outros. Acho que deve ser feito assim do que falar directamente aos superiores. Não está escrito que devemos primeiro tentar chamar a atenção ao nosso irmão em privado antes de fazer chegar o nosso desagrado às autoridades?
Por fim, chego ao Post do Filipe. Há uma grande diferença entre dizer que alguém errou ou dizr que essa pessoa está constantemente errada. Não conheço as razões do Bispo, mas pelos teus comentários verifico que tu também não concordas com a sua acção. O que o Filipe fez foi desabafar num post essencialmente frequentado por amigos. É verdade que o seu acesso é público, mas na realidade a visita de pessoas a este post é reduzida e dentro de um círculo de pessoas que posso dizer, na sua maioria católicas. Caso o tivesse feito através da Rádio onde trabalha, sei que a forma da mensagem seria outra. O conteúdo não, pois esse é um facto e não pode ser alterado. O Filipe não fez isso e por isso não considero que esta seja uma correcção pública.
Além disso, tnata coisa é dita de mal sobre a Igreja quando esta faz coisas bem. Não nos cabe a nós membros da Igreja chamar a atenção quando verificamos que as coisas estão mal?
Ninguém pretende aqui minar a autoridade do Bispo que todos reconhecemos plenamente e que nunca esteve em causa.
Filipe, muito obrigado pelo post. Reparei que no puseste o título do livro. Ainda bem.
Aguiar, eu sei que és assim, mas deixa de ser sensível. Ter uma atitude arrogante não quer dizer ter a característica de ser arrogante.
Amigos, foi referido que acima de tudo está a unidade da Igreja. Não é esta unidade conseguida através da correcção fraterna?
Um abraço a todos
Jam, obrigado pela resposta.
Eu sei que os senhores Bispos se podem enganar. Eu muitas vezes discordo com um outro Bipos, em algumas questões, verificando algumas vezes que de facto os mesmos senhores Bispos não têm razão.
Eu não ponho isso em causa. Ponho apenas em causa o meio escolhido. Como já disse, se o Filipe tivesse enviado uma mail ao senhor Dom Januário, ou até mesmo a alguém acima do senhor Bispo, eu não ficaria nada chocado. Isso é correcção fraterna.
A única coisa que realmente me incomodou no post foi o meio escolhido. Um meio público, por muito que pouco frequentado.
Eu próprio tenho um blog e, a um certo ponto, dei por mim a ser lido por pessoas que não queria e a dizer coisas que só devem dizer entre amigos.
O que se escreve na net está escrito e é público. Por isso devemos ter sempre muito cuidado com o que escrevemos.
Mais uma vez obrigado pela resposta,
Zé Maria Duque
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