quinta-feira, novembro 30, 2006

Cuidado com os Lobos com Pele de Cordeiro...

Católicas acusam hierarquia da Igreja de estar contra aborto por "desejo de manter o poder"
Nuno Sá Lourenço

Papas criticados por desencorajarem discussão teológica sobre o assunto

O Parlamento foi ontem palco de um momento diferente. A propósito de um colóquio sobre direitos humanos, o grupo parlamentar português sobre população e desenvolvimento convidou para discursar duas católicas declaradamente a favor do "sim" à despenalização do aborto e que não pouparam nas palavras para criticar a hierarquia da Igreja.
As críticas mais frontais vieram da norte-americana Frances Kissiling, presidente dos Católicos pela Livre Escolha (CFFC), tendo esta activista sustentado que a resistência da Igreja à despenalização do aborto e aos métodos contraceptivos tinha que ver, acima de tudo, com "o desejo de manter o poder".
"Encontra-se uma paixão nos bispos contra o aborto que não se encontra sobre mais nenhuma questão", começou por dizer Kissiling. Segundo a norte-americana, uma mudança na posição da Igreja sobre estas duas matérias representaria o fim das duas regras "para ter poder na Igreja": "Tem de ser homem e tem de dizer que não pratica sexo." Ora a aceitação da contracepção e do aborto significaria reconhecer que "qualquer pessoa teria possibilidade de estar perto de Deus".
A posição da Igreja, sustentou, só se justifica com "algo de profundamente sexista". A activista deu como exemplo a forma como a Igreja encara a guerra. "A Igreja admite que pode ser justo tirar a vida de uma pessoas numa guerra, admite que se pode tirar a vida de uma pessoa em legítima defesa, mas uma mulher não se pode defender de uma gravidez perigosa", criticou.
Também Ana Vicente, investigadora e membro do movimento leigo Nós Somos Igreja, questionou o papel da religião no desenvolvimento das sociedades. "As religiões servem de obstáculo ao desenvolvimento e ao empoderamento das mulheres."
Frances Kissiling acusou ainda directamente o anterior e o actual Papa. "Os teólogos deixaram de discutir [quando começa a vida] e isso teve que ver com o Papa João Paulo II e de Ratzinger, quando estava à frente da Congregação da Fé. Desencorajaram qualquer forma de discussão teológica."A norte-americana explicou ainda "como é que uma católica pode acreditar que o aborto não é crime". Lembrou que a infalibilidade papal não se aplicava à questão do aborto, assinalou que a Igreja não tinha um posição oficial e definida sobre quando um feto se transforma em pessoa, e invocou a regra existente que define que "onde há dúvidas deve haver liberdade".
A deputada Ana Manso, do PSD, assumiu também a defesa da despenalização, destacando a importância dos depoimentos escutados. "É importante que se diga que milhões de católicos questionam as posições da hierarquia católica e que milhões de católicas interromperam já uma gravidez." Assumindo-se como católica fez questão de garantir que tal não a impedia de apoiar o "sim" no referendo: "A minha fé ensina-me que é possível ir ao encontro de políticas como a contracepção ou a interrupção voluntária da gravidez. Porque salvam milhões de vidas."
in Público 29-11-2006

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1 comentário:

João Silveira disse...

Desconfio que há pessoas que se afirmam católicas, só para que as suas críticas serem mais "válidas". Até porque no que dizem mostram que não percebem nada do que a Igreja diz...